Comunicação Não Violenta - a invisibilidade da Violência.

Como lidamos com a dor do outro diz muito sobre como lidamos com nossas próprias dores.
Este artigo é um convite a fazer algo diferente ao olharmos conscientemente para nossas ações. E, a partir daí, fazermos escolhas conscientes de como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros.
Então, ...
Qual foi a última vez que você escutou algo difícil?
Consegue se lembrar de sua reação?
Como tentou contribuir com o bem-estar desta pessoa?
Alguns de nós traríamos as soluções que funcionaram para nós.
"Olha, eu sei bem como é isso. Já passei por algo assim. Seguinte, faz isso, isso e aquilo que resolve, ou ao menos melhora." Imbuídos de boas intenções oferecemos uma "fórmula mágica.” Sem perguntar se ela esta disposta a escutar uma opinião.
Alguns de nós, tentando oferecer apoio, busca tornar a percepção da dor menor.
"Não fica assim. Vai passar. Amanha é um outro dia, você vai ver. Que tal olharmos por outra perspectiva." Incentivamos a negação do direito de sentir aquilo que se sente, na intensidade que a dor se revela. Alguns de nós temos essas como reações cotidianas, que muitas vezes ocorrem no piloto automático pois aprendemos que essa é a melhor forma de lidar com a dor.
Existe uma outra oportunidade, a de estar presente, antes de qualquer coisa. Escutar, sustentar a dor que esta ali, sem querer bani-la.
- Como assim... deixar a pessoa sofrer?
Acreditando na autonomia e escolha de uma pessoa é ouvir o que ela necessita o que é importante pra ela naquele momento.
Há quem diga que gostaria de um conselho.
Há quem precise de apoio para ver que talvez a situação não seja tão grande quanto parece.
Há quem queira principalmente de um abraço genuíno.
Há quem esteja precisando apenas de falar e ser ouvido.
A principal mudança é - antes de tomar qualquer ação que parece óbvia e uma ótima saída – escutar o que seu interlocutor necessita.
Um exemplo:
"Fui despedida da empresa na qual trabalhei 8 anos. Estou bem triste com essa situação, me sinto sem chão”.
Reação 1, minimizando a dor: "Ah, que isso! Não é nada. Você é competente vai arranjar um trabalho logo, logo. Vamos tomar um vinho para celebrar essa nova oportunidade."
Reação 2, estando a serviço do outro: "Nossa, fiquei surpresa. Fico preocupada e gostaria de saber como poderia contribuir, se é que há algo que eu possa fazer."
Numa situação de fragilidade e dor, uma pessoa vai se expressar abertamente. E quando escuta "eu sei o que é bom pra você" a chance de sermos violentos de forma invisível, é enorme.
Esse é um exemplo, dentre inúmeros, onde criar espaço para a dor existir e a própria pessoa escolher como caminhar, pode contribuir para o bem-estar e autonomia de todos. Ainda que isso signifique sentir essa dor por um tempo.
Quando marginalizamos o que surge em nós criamos um senso interno de inadequação, categorizando o que "devemos" e "não devemos" sentir e expressar. Conseqüentemente, projetamos nas pessoas ao redor essa mesma inadequação e a violência se retroalimenta.
E você, como lida com a dor?